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Era sábado à noite. Céu estrelado. Muitas manifestações de alegria. Um cheiro maravilhoso de churrasquinho e comidas de milho no ar. Pessoas sorrindo, comendo, conversando de forma descontraída. Conjunto tocando forró, pessoas dançando (algumas de forma desengonçada) mas, a alegria e o entusiasmo superava qualquer falta de habilidade dos dançantes. Era o Arraiá da Betesda.
Em meio a todos estes eventos simultâneos um homem (o vendedor de pipocas) observa tudo e, estupefato, indaga a um dos transeuntes: QUE IGREJA É ESSA?!
O que permeava o pensamento do observador ao se deparar com cenas inesperadas oriundas de uma comunidade evangélica? Que concepções paradigmáticas este homem nutre dos evangélicos ao ponto de ficar embasbacado com o cenário que estava vislumbrando?
Realmente, não temos como negar que nosso “modus vivendi e nosso modus operandi” é um tanto quanto diferente da visão evangélica vigente. Vejamos:
· Comemoramos as festas juninas, não com uma conotação religiosa mas, como uma manifestação cultural.
· Somos incentivados a construir um senso crítico e para isso motivado a ler obras de autores que professam outra crença diferente da nossa, inclusive obras de quem não professa crença alguma.
· Fazemos ação social valorizando o ser humano, independente de sua opção religiosa futura.
· Cremos que Deus ama incondicionalmente, isto é, não nos é imposta condições para ser alvo deste amor. Nada que venhamos fazer vai levar Deus a nos amar mais ou menos, isto é graça.
· Não vemos nas manifestações naturais (enchentes, terremotos, tsunames, etc) uma ação punitiva por parte de Deus.
· É fomentado a tolerância e o respeito ao ser humano independente de crença, posição social, intelectual, opção sexual. É-nos fomentado a tolerância com os “diferentes”.
· Temos uma teologia e ritos cultuais que nos são próprios e não são definitivos, portanto, sujeitos á mudanças.
Ao expor alguns destes argumentos, presenciei manifestações de indignação e revolta do tipo: Ser crente assim é muito fácil! FÁCIL?!
Como pode ser fácil acreditar que o fato de ser evangélico não me transforma em uma classe de seres superiores, nem especiais, e não me isenta de sofrer as intercorrências da vida como doenças, assaltos, desemprego, separação conjugal, reprovação em vestibular e em concursos? Como pode ser fácil saber que minha história está em aberto e que sou responsável pelas minhas escolhas? Nada está determinado. Se quero progredir social, intelectual ou economicamente, tenho que me esmerar através de capacitações e esforços. Como pode ser fácil ter liberdade de fazer o que quiser e, no entanto, abrir mão desta liberdade em detrimento do relacionamento com Deus? Como pode ser fácil ser fiel ao meu cônjuge não porque Deus está vendo e isso pode entristecê-Lo, mas porque tenho que ser fiel as minhas promessas de amor para com a pessoa que eu escolhi. Como pode ser fácil saber que tenho responsabilidades com as desigualdades sociais e não basta só criticar, sou consciente que tenho que ter sensibilidade para com o menos favorecido e que sou parte primordial do processo de mudança da sociedade, não apenas colocando nas mãos de Deus como se Ele fosse o responsável?
Creio que ser crente assim é muito mais difícil, porém é muito mais libertador. Como é bom relacionar-se com Deus sabendo que Ele me ama apesar de minhas imperfeições e que O amo independente de suas intervenções. Eu amo a Deus pelo seu amor, pela sua companhia, pela sua compreensão, por nunca desistir de mim.
Agora consigo entender um pouco do sentimento do apóstolo Paulo, quando em meio a tantas dificuldades, bradou: A TUA GRAÇA ME BASTA!
Depois de tudo isso, entendo que aquela indagação do pipoqueiro não era uma crítica e sim uma constatação de que se pode servir a Deus e não perder a alegria, a descontração e poder aproveitar todos os momentos bons que a vida pode proporcionar.