terça-feira, 15 de setembro de 2009

Tentativas de compreender qual ‘educação’ é mais adequada para que nossos filhos tenham sucesso na vida.

Luisa de Marilac de Castro Silva(*)

Como Pedagoga, é comum que eu seja argüida sobre educação. Muitas pessoas me perguntam sobre como educar os filhos, como escolher uma boa escola, etc. Na maioria das vezes, essas pessoas esperam que eu lhes ofereça uma receita. Algo fácil, de preferência. Uma fórmula mágica que lhes assegure uma “boa educação” aos seus filhos. De antemão, esclareço que a proposta deste texto não é dar respostas, mas fazer perguntas.

O que vem a ser educação? Tentando sintetizar o que estudei no Curso de Pedagogia, a educação é antes de tudo uma ação intencional cujo objetivo é moldar o ser humano de acordo com um modelo valorizado pela sociedade.

Façamos uma tentativa de compreender este conceito a partir da busca pelo significado de algumas palavras no dicionário. Por ação intencional se entende um ato de vontade, de desejo, um propósito. Moldar significa adaptar ao molde. E o que é molde? É uma peça oca em que se introduz matéria pastosa que, ao solidificar-se tomará a forma dele. Já a palavra modelo diz respeito àquilo que serve de referência ou que é dado para ser reproduzido.

Segundo este enunciado, a educação seria um ato de vontade dos pais, para introduzir os referenciais da sociedade moderna (modelo) em filhos “ocos” (moldes).

É para isso que colocamos nossos filhos na escola? Para serem ‘moldados’ à sociedade do século XXI? E que sociedade é esta? Ouso dizer que é a sociedade do consumo, das relações superficiais, do individualismo e da competição. Neste caso, a melhor escola para nossos filhos será aquela que os forjará a serem vencedores no mundo competitivo da atualidade, certo?

O que esperamos da escola então? Que ela ‘prepare’ nossos filhos para o futuro. E o que significa isso? Bem, tentarei traduzir o que tenho escutado nestes 26 anos que atuo como educadora. Buscarei, da forma mais transparente possível, apresentar o pensamento de muitos pais, ansiosos com o sucesso futuro de seus filhos.

O desejo da grande maioria dos pais é que seus filhos cresçam, façam vestibular para um ‘curso de ponta’ numa universidade pública, concluam seus estudos com louvor e passem num concurso público que lhes dê muito dinheiro e a garantia de uma ‘vida tranqüila’.

Geralmente, nós os pais, não costumamos gastar nosso tempo pensando em formas de ajudar nossos filhos a serem felizes no futuro. Numa sociedade capitalista, onde o ter sobrepõe o ser, felicidade se resume a ter dinheiro e bens.

Talvez por isso ensinemos aos nossos filhos, desde pequenos, que ser feliz é conquistar bens materiais. E mesmo sem falar, nós lhes passamos a mensagem de que ser feliz é ter o melhor celular, ter o tênis mais caro, ter o notebook de última geração, ter MP3, Mp4, MP5, ter roupa de marca famosa, ter carro com ar condicionado, vidro e travas elétricas, direção hidráulica e rodas de liga leve.

E onde entra a educação, ou melhor, a escola nessa história toda? Ora, para adquirir dinheiro e bens materiais, a sociedade pós-moderna exige muitos anos de escolaridade. Assim, logo que nossos filhos completam 2 ou 3 anos os matriculamos numa escola e iniciamos o processo de estimulação para que superem as suas dificuldades e mais que isso, para que sejam capazes de superar seus pares.

Sim, não adianta se escandalizar. Desde cedo ensinamos a nossos filhos que eles devem ser os melhores da turma. Ensinamos que não existem colegas, mas concorrentes. Ensinamos que não devem confiar nas pessoas.

Evidente que estou generalizando. E que fique claro, minha intenção não é julgar os pais. Afinal, a maioria apenas reproduz, inadvertidamente, a lógica do capital, sem refletir, imaginando que está fazendo o melhor para que seus filhos tenham sucesso no futuro.

Contudo, diante de tudo isso eu me pergunto o sentido dessa preocupação dos pais em escolher a melhor escola para seus filhos. Antes de tudo, para fazer uma escolha acertada faz-se necessário refletir sobre que tipo de filho se quer formar.

Se o desejo é que seu filho seja um ser humano ético e equilibrado emocionalmente, a melhor escola não é a que imprime uma disciplina rígida de estudos, nem tampouco a que diz ter a melhor equipe de profissionais, as melhores instalações físicas ou equipamentos de última geração ao alcance das crianças. A escola ideal será aquela preocupada em ensinar sobre o respeito às diferenças, o amor ao próximo e a preocupação com os excluídos socialmente.

A melhor escola para uma criança será aquela preocupada em formar o ser, cujo sistema de avaliação não se resuma a uma nota no boletim. No mínimo, essa escola chamará os pais para reuniões periódicas onde prestará relatórios do desempenho das crianças e apontará sugestões que contribuam para o desenvolvimento integral de cada uma enquanto indivíduo.

A escola não é lugar de preparar as crianças para, no futuro, exercerem profissões socialmente valorizadas. Segundo Rousseau, filósofo do século XVIII, a educação deveria ser planejada com a intenção de propiciar felicidade à criança enquanto ela ainda é criança. Afinal, nem todos serão médicos ou advogados (as duas profissões mais procuradas pelos jovens imediatamente após a conclusão do Ensino Médio), mas todos serão, com absoluta certeza, adultos com necessidade de serem felizes.


(*)Pedagoga, Pós-graduada em Psicopedagogia, Especialista no Enfrentamento da Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Mestranda em Serviço Social. Atualmente é assessora pedagógica no Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação.

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